Revista do Jardim Botânico traz pesquisas inéditas sobre biodiversidade
Uma delas trata sobre animais aquáticos que desempenham papel importante no equilíbrio do ecossistema e servem como indicadores da qualidade da água e mudanças climáticas
A nova edição da Revista Heringeriana do Jardim Botânico de Brasília já está à disposição dos admiradores da biodiversidade. A publicação traz, a cada semestre, novos artigos científicos, revisões bibliográficas e notas técnicas para disseminar o conhecimento. Por meio de periódicos como esse é que são divulgadas as descobertas da ciência e as pesquisas que estão sendo conduzidas no Brasil e no mundo.
Neste número, os pesquisadores trazem novas descobertas sobre germinação de sementes de uma espécie importante do Cerrado e um estudo sobre como certos animais aquáticos que podem ajudar a identificar a qualidade da água. Por fim, mostra uma pesquisa que avalia o comportamento de peixes geneticamente semelhantes e como as espécies fazem para coexistir em um mesmo ambiente.
A Heringeriana é um dos pré-requisitos para a manutenção da classe A do JBB na classificação dos Jardins Botânicos do Brasil. Este fichamento é regulamentado pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) e estabelece critérios técnicos como infraestrutura e qualificações do corpo técnico e pesquisadores.
A diretora-executiva do Jardim Botânico, Aline De Pieri, acredita que esse é um dos grandes trabalhos desenvolvidos pela instituição. “A revista estava com as edições atrasadas quando assumi a gestão e nossa missão era colocar nos trilhos até para não prejudicarmos nossa classificação. No entanto, a equipe que está à frente desse trabalho se dedicou e fez acontecer. A conquista não é só do Jardim, mas da academia e das futuras gerações”, reforçou.
A gerente de biblioteconomia do JBB, Maria Rosa Zanatta, adiantou que os editores que atuam na publicação estão estudando possibilidades de indexação da revista em novas bases de dados, o que trará ainda mais visibilidade. “Já iniciamos o processo de obtenção de número de DOI – Digital Object Identifier -, o que vai aumentar a visibilidade da revista e, consequentemente, a nota no Qualis Periódicos da Capes”.
O DOI é um padrão de números e letras que identificam publicações exclusivamente em ambiente virtual, dando ao objeto singularidade e permanência reconhecida na web. O instrumento facilita a busca em campos digitais e valoriza a legitimidade da publicação.
A Heringeriana é em formato digital e voltada a projetos que estudem a Biodiversidade, Ciências Agrárias e Ciências Biológicas. Para Maria Rosa, a revista tem grande relevância para a biodiversidade do Bioma Cerrado e que ainda resiste ao atual cenário de “culto ao fator de impacto” que é um método usado para qualificar as revistas científicas com base nas citações que ela recebe.
“A revista começou em 1994, como Boletim do Herbário Ezechias Paulo Heringer, onde foram publicados artigos clássicos e muito citados na área de biodiversidade vegetal, de pesquisadores importantes, como Jimmy Ratter, Jeanine Felfili, Carolyn Proença, Cássia Munhoz, Manoel Cláudio, Roberta Mendonça, entre outros”, complementou.
Artigos
Nesta edição, a revista traz três artigos inéditos. O primeiro é sobre a diversidade de um grupo de animais aquáticos (Cladocera) que desempenham papel importante no equilíbrio do ecossistema, além de servir como indicadores da qualidade da água e mudanças climáticas.
De acordo com a pesquisa, houve registro de 26 novas ocorrências, sendo que a maioria é de espécies exclusivas a determinado local, o que demonstra a heterogeneidade ambiental nos ecossistemas aquáticos do Cerrado. A partir de informações detalhadas como essa será possível, por exemplo, gerar subsídios para proteção mais efetiva de mananciais.
O segundo artigo estudou o comportamento de duas espécies de peixes que são próximas filogeneticamente e que usam recursos similares, o que pode resultar em competição. O estudo verificou a dieta dos animais e os pesquisadores acreditam que ao longo do tempo poderá haver certa segregação espaço-temporal para permitir sua coexistência. Caso contrário, uma das espécies pode ser extinta por exclusão competitiva.
O último estudo testou a germinação de sementes da espécie Vellozia cinerascens, conhecida popularmente como canela-de-ema, em diferentes níveis de temperatura e luminosidade. Pesquisas como essa são necessárias e importantes para a determinação das condições ideais de germinação, principalmente relacionadas às espécies vegetais nativas, pois auxiliam a análise de sementes para produção de mudas e consequente manutenção da biodiversidade vegetal.
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* Com informações do Jardim Botânico de Brasília (JBB)