A violência sexual contra crianças e adolescentes cresce durante a pandemia
Após cinco meses desde a oficialização da pandemia no Brasil e suas medidas de isolamento, a realidade confirma a previsão inicial de órgãos de proteção à infância e adolescência
“Frente à necessidade do isolamento social enquanto medida de contenção da propagação do Covid-19, é urgente pensar em ações de proteção às crianças em situação de vulnerabilidade”. São com essas palavras de preocupação que a psicóloga e especialista em educação inclusiva, Helen Lima, alerta para a necessidade de criação de medidas de extrema urgência para amparar crianças e adolescentes vítimas de violência sexual.
Desde o início da pandemia, órgãos de proteção à infância e adolescência já apontavam para os riscos de aumento dos casos de violência intrafamiliar, incluindo a violência sexual contra crianças e adolescentes, pela maior exposição e contato a que os mesmos estariam submetidos diante das condições de isolamento social. Isto porque os muitos estudos que se realizam a partir dos casos notificados indicam que a maior parte dos agressores são parentes ou pessoas próximas das vítimas.
Infelizmente, passados, em média, cinco meses desde a oficialização da pandemia no Brasil e suas medidas de isolamento, a realidade confirma a previsão inicial. Anualmente, no Brasil, são notificados 24 mil casos de violência sexual contra crianças e adolescentes, por meio do Disque 100, e quase 20 mil casos pelo Sistema de Saúde. Hoje, constata-se um aumento significativo nestes casos, pois, desde março, mais de 26 mil denúncias de agressão e violência sexual contra crianças e adolescentes foram registrados pelo Disque 100.
A psicóloga destaca que estes são apenas os números dos casos notificados, pois estima-se que a ocorrência seja muito maior. “Há pesquisas que indicam que estes números de violência sejam até 13 vezes maior do que os casos notificados. Isto ocorre porque em alguns casos, a criança ou a família não tem informações ou suporte sócio-afetivo suficiente para lhes ajudar no rompimento do ciclo de violência. Este cenário nos leva a outro fator importante nesta discussão: com o isolamento, a notificação dos casos também fica dificultada, em função da presença do agressor em casa”, alerta Helen Lima.
Também professora universitária da Estácio Brasília, Helen explica que é importante pensar em ações de fortalecimento das famílias para que elas possam identificar a ocorrência de casos e, consequentemente, lançar mão de estratégias que possam romper o ciclo da violência e a ajudar a criança a lidar e elaborar esta situação de violência, sem, com isso, revitimizá-la, tendo uma ação indispensável no que diz respeito à divulgação de informações sobre as redes e serviços de proteção às crianças, bem como sobre os canais de denúncia, para que as famílias possam saber onde recorrer caso a situação lhes ocorra.
“É importante a criação de redes de informação, por meio das quais elas possam ter acesso aos conhecimentos necessários à identificação e conduto diante da ocorrência de casos, bem como sobre como abordar as questões relacionadas ao autocuidado e autoproteção junto às crianças. Esta abordagem é fundamental, pois instrumentaliza as crianças a perceberem relações abusivas e, como isso, buscar ajuda. Contudo, o importante é que toda a sociedade esteja sensível a esta realidade e atenta a todo pedido de ajuda que possa vir de nossas crianças e adolescentes, haja vista as consequências nefastas que esta experiência pode provocar por toda a vida da vítima”, conclui a psicóloga.